Aqui conto um pouco do que o esporte me proporcionou e de como ele continua a mostrar a melhor versão de mim mesma.

Suar, treinar, repetir, ralar e abdicar de muitas coisas. Nada me demove.
Amo esses momentos com minha coach, meus colegas de treinos e com minha introspecção.

Brincando com as palavras: não penso em nada.
Só sinto a imensa harmonia, sinergia e simbiose com a água. E cresço.

Quando chove, nado. Quando faz sol, nado. Estou triste, nado. Feliz nado. Preocupada? vou nadar. Resfriado quer pegar? vou nadar. Muito trabalho? vou desestressar – vou nadar.
Atravesso a água e ouço musica. Minha respiração dá o compasso.
Tudo se encaixa.
Nada se perde, tudo se transforma. Lavoisier sabia das coisas!

Sem querer adaptar a frase de nosso Fernando Pessoa…

Mas, a frase me define.

Em breve farei 69 anos.

Nado há 51 – número esse que remete a uma “boa ideia”!

Quando digo nado, quero dizer: treino há 51 anos.

Iniciei os treinos aos 17 anos no Clube Palmeiras. Por que iniciei os treinos nas piscinas tão tardiamente?

Porque antes eu praticava atletismo – corredora de 100m rasos e salto em distância, no Clube Pinheiros enquanto militante.

Tive o grande privilégio de ter como treinador o Pedrão – Pedro Henrique Camargo de Toledo – que foi quem treinou João do Pulo entre muitos outros atletas olímpicos. Ele foi o divisor de águas em minha vida esportiva.

Pedrão sempre fez parte de minhas lembranças e quando iniciei esse trabalho atual, decidi que iria encontrá-lo. Foi difícil, mas fui honrada por ele em me conceder 1h30 de seu precioso tempo para uma live comigo.

São essas coisas que fazem com que a vida seja mágica.

Sai do atletismo por conta de uma lesão séria que me obrigou a fazer fisioterapia durante um ano. Me decidi então pela natação.

Já era velha para me tornar uma nadadora de alto rendimento. Sobretudo naquela época em que as meninas se faziam muito mais raras no esporte. Mas, como diriam alguns – não me avexei

Gostava do clube Palmeiras fundado por imigrantes italianos, em 1914, com o nome Palestra Italia.

Piscina aberta e água sem aquecimento. Nadar no inverno era um desafio do amor ao esporte! Se bobeasse era xeque-mate!

Lá, fizeram um festival de natação e convidaram o “monstro” Mark Spitz!

Ele fez uma apresentação dos nados para todos que ali estavam. Fiquei absolutamente fascinada.

Spitz ganhou 7 ouros em uma única edição de Jogos Olímpicos em 1972 em Munique onde bateu 4 recordes mundiais nas provas individuais e 3 recordes nos revezamentos. 7 ouros = 7 recordes mundiais!

Antes disso havia ganhado 2 de ouro nos Jogos de 1968 no México mais uma de prata e uma de ouro. No total, foram 11 medalhas olímpicas.

Em 5 anos como profissional venceu 24 ouros. Se aposentou aos 22 anos.

Continuei a nadar desde então. Nunca mais parei.

E espero continuar a me jogar nas águas salgadas, cloradas e ozonizadas até quando a vida assim o permitir.

A água me fascina, me envolve e me transporta. Literalmente.

Treinar natação envolve disciplina, persistência, resiliência, foco, concentração, resistência, humildade, uma quase obsessão, busca por conhecimentos. Mas, sobretudo, é a paixão que me move. Sem ela, não me desloco. Não busco. Não vejo sentido.

A natação exige respostas às suas perguntas e, consequentemente, te leva à melhor compreensão da física aplicada ao nado – Newton se torna um grande companheiro em suas aventuras natatórias durante todo o percurso de sua vida.

Ele está presente através da lei da Inércia, da lei Fundamental da Dinâmica e da lei da Ação e Reação (propulsão). A velocidade na natação é determinada por fatores biomecânicos e bioenergéticos – deve-se ter modulação na quantidade de força produzida pelo nadador.

Para melhorar a performance é necessário estudar, ler, se informar sobre como fazer. Treinador nos ensina a melhorar o movimento, a aumentar a velocidade, mas raramente explica o motivo das correções. Cabe a você buscar os porquês e os como.

Ou você começa a entender um pouco disso tudo ou continuará a bater pernas, braços e cabeça sem ter consciência de como a compreensão da física poderá te ajudar a chegar lá com mais facilidade.

Natação te ensina. Te coloca no limite – da paciência, da dor, da provação, do medo, dos sonhos… seu limite mental é a chave decisória. Dê um clique nela e o mundo será outro. Você se descobre. E então, será coberto pelo manto da força interna. Essa bagagem é levada com você para todos os setores da vida. É uma tatuagem.

Nadar te mostra o mundo. Te dá amigos. E concorrentes que poderão vir a ser seus amigos. Te ensina o sentido do respeito.

Subir em um bloco é o ponto final de sua viagem cuja passagem você adquiriu no percurso que traçou durante 1 ou 2 anos. É o maior dos desafios.

Subir em um bloco é querer vencer, mas é também não ter medo de perder, é arriscar, é sentir o pulsar de seu corpo, é ter a certeza de que dará o seu melhor.

Todo o preparo, que pode durar anos, para tentar conquistar um pódio é a melhor parte que o esporte te oferece.

Nesse trajeto você soube o que é lealdade, dificuldade, conheceu seu corpo, sua mente, dominou seu medo, descobriu quem é de fato.

O esporte faz com que sempre projetemos o futuro. Não paramos para viver no passado e do passado. Há sempre uma nova competição, um novo lugar para conhecer, novos amigos e novas culturas. Nos Masters a natação abate as diferenças e coloca todos no mesmo patamar. O único objetivo é nadar.

É um moto contínuo. Dentro e fora da água.

E dele preservamos o que a vida nos dá de mais lindo: a vontade de vivê-la intensamente.

E você, o que faz? Conte aqui… Compartilhe!

Observação: atualmente, nado uma média de 4km/dia, 6 vezes por semana = 96 km/mês. Em 12 meses completo, no mínimo, 1.152 km – sem levar em conta as provas, os treinos longões, os desafios… Volume e intensidade são sempre uma constante em todos os treinos. E assim “la nave va”…

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