Avaliações psicológicas tradicionais e observação de desempenho esportivo

Por ocasião de um campeonato de natação master, o desconforto se instalou em um revezamento formado por 4 mulheres que nadariam 50 metros cada uma nos 4 estilos, ou seja, o medley. A ordem é: costas, peito, borboleta e crawl.

Foi um domingo chuvoso, fora da cidade de São Paulo. Todos tiveram que se deslocar de carro, enfrentar pedágios, gastos com combustível, refeições, hotéis / airbnb, lanches, inscrições para o campeonato e para os revezamentos e abandonar famílias. Durou dois dias – um final de semana.

O campeonato contou com aproximadamente 600 nadadores. Foi muito bom. Não fosse um “MAS”.

Para quem não é do “ramo”, servem explicações de como são montados os revezamentos e as normas aplicadas a eles.

Os responsáveis das equipes, abrem um grupo no whatzapp com o nome do campeonato. E, incluem no grupo os nadadores que participarão do campeonato.

Começam então a organizar as inscrições dos revezamentos. Elaboram uma planilha com os nomes de todos os que desejam nadar os revezamentos do evento. Os nadadores preenchem a planilha especificando quais revezamentos desejam nadar, os estilos nos quais se saem melhor, e os tempos de cada estilo e distância.

Feito isso, nessa mesma planilha, é realizado o controle dos pagamentos de cada integrante de cada revezamento. Quem pagou é pintado de verde. Quem não pagou fica em vermelho.

A cada comprovante enviado, a cor do participante muda. Essa planilha circula no grupo até que todos estejam com o nome pintado de verde.

Só então é que os responsáveis começam a montar os revezamentos por faixa etária.

100+ (25 anos a média de idade dos 4), 120+ (30 anos), 160+, 200+, 240+, 280+.

Pode haver um nadador mais jovem ou mais velho no grupo. O que importa é que a soma das idades dos 4 não ultrapasse o limite estabelecido acima.

Se por acaso, a soma das idades deu 121 anos, esse grupo vai ser jogado no grupo 160+.

Quantos revezamentos existem? Há 15 revezamentos ao todo.

4x50m livre, 4x50m medley, 4×100 livre e 4×100 medley, 4×200 livre. Todos podem ser mistos, masculinos e femininos.

Montar revezamentos é uma arte. Um tarefa árdua. Deve-se saber o tempo de  cada nadador em cada um dos nados. Matemática e estatística têm papel preponderantes nos cálculos.

Uma vez feito isso tudo, os revezamentos são apresentados aos nadadores. Cada um saberá em qual categoria irá nadar (faixa etária), quem serão seus parceiros e qual estilo nadará.

A lista é enviada à organização do evento, que depois de tabular os tempos, fará o balizamento. E cabe a cada nadador, procurar na lista de balizamentos, seu grupo para saber em qual série nadará e de qual raia sairá.

Conclusão: É impossível NÃO saber que nadará o revezamento x no dia y com x, y, z colegas.

Em geral, os revezamentos são realizados após as provas individuais.

No domingo, seria o revezamento citado acima. Três mulheres estavam no local indicado onde os árbitros chamam todos os componentes de cada revezamento. A quarta não estava no grupo. Alguém disse que ela estava no vestiário tomando banho. Foram avisá-la de que deveria comparecer ao balizamento.

A moça já havia tomado banho e estava se vestindo. Primeiro, alegou não saber do revezamento. Depois, alegou estar com dor no braço. Depois, disse que já havia tomado banho.

Seus argumentos foram desmontados um a um. Impossível não saber do revezamento. Todas as outras três colegas também tinham dores, mas estavam lá, a postos. O banho poderia ser tomado novamente. O revezamento seria único.

Argumentos para demovê-la da inercia foram apresentados – todas pagaram o valor dos revezamentos, havia uma das integrantes que não havia nadado nenhuma prova individual antes, mas ficou lá por conta da equipe. E mais, poderia ter ido embora no sábado à noite, mas pagou uma diária a mais no hotel por causa do compromisso assumido. A prova estava ganha antes de nadarem pois o tempo delas era o melhor e ganhariam a prova facilmente. Seriam ouro. Os árbitros aceitaram atrasar uns instantes a prova para que ela comparecesse ao balizamento. Se não nadasse, a equipe perderia os pontos que já estavam praticamente ganhos. Talvez fosse a diferença entre ganhar ou perder o campeonato.

Tudo foi absolutamente inútil. Ela se recusou a participar da prova e obrigou as três mulheres a informar os árbitros de que a equipe não nadaria.

Tomando esse exemplo para uma equipe em uma empresa, essa colaboradora seria despedida.

Simplesmente porque não teve responsabilidade, comprometimento, engajamento, espírito de equipe, empatia, não se preocupou com ninguém, não valorizou o trabalho de quem montou os revezamentos, desrespeitou os árbitros, atrasou a saída daquela bateria, não foi leal a ninguém, causou prejuízo financeiro às outras integrantes, desprezou a medalha e a equipe como um todo, causou a desclassificação da equipe de revezamento e a perda de pontos importantes para o ranking final da equipe. Nem mesmo pensou em avisar as colegas antes da prova de que não nadaria.

Faltou com a ética em todos os sentidos.

A indiferença aos pedidos feitos e o desprezo ao esforço comum, foram impactantes.

Porém, o mais impressionante foi o fato de, em momento algum, ter se dirigido às colegas do revezamento ou ao treinador para pedir desculpas. Ou se explicar. Faltou com a humildade e em assumir o erro.

A arrogância com que prosseguiu em sua indiferença foi o que gerou esse artigo.

A analogia entre os valores comportamentais no esporte e os existentes nas empresas sobrepõem-se.

Não há como separar um do outro. Esse tipo de comportamento existirá na empresa na qual trabalha, na equipe da qual faz parte, nos amigos que porventura fizer, em negócios, em família, na sociedade.

Talvez, devêssemos não só exaltar as atitudes positivas com que os esportes lapidam o caráter.

Talvez devêssemos também dizer, através de exemplos como esse, que há aqueles que têm comportamentos negativos no meio esportivo.

Há os que roubam através do uso do doping. Há os que perdem o controle emocional facilmente e se envolvem em discussões e brigas. Há os que são desleais por causa do brilho que desejam ter. Há os que humilham ou menosprezam seus oponentes. Não valorizam a competição justa e o esforço alheio.

Todos eles não fazem jus à imagem que o esporte merece. Eles não aprenderam e, portanto, não cresceram. Continuam pequenos.

Esses “atletas” existem. Criam consequências destrutivas.  Frustrações. Desafetos.

Eles servem para nos mostrar como NÃO ser. Os erros são fontes de crescimento.

Eis um dos motivos pelos quais as empresas devem aderir à prática esportiva de seus colaboradores.

O esporte tem também esse fator positivo: em situações esportivas os traços de personalidade se expressam efetivamente.

O esporte é uma arena onde os atletas têm que lidar com desafios, pressões e competições, e isso pode revelar diferentes aspectos de suas personalidades. As reações às dificuldades enfrentadas são espontâneas e imediatas.

Essas situações esportivas podem fornecer insights valiosos sobre os traços de personalidade de um indivíduo. A avaliação pode ser mais rica e abrangente ao identificar possíveis desafios emocionais e comportamentais, como tendencias agressivas, dificuldade de controle emocional ou baixa autoestima.

A combinação de avaliações psicológicas tradicionais com observação de desempenho esportivo pode oferecer uma visão mais completa dos traços de personalidade de uma pessoa.

Surge então, a oportunidade de oferecer ferramentas a essa pessoa para desenvolver habilidades, espírito de equipe, controlar emoções, ter resiliência e perseverança, por exemplo.

Como disse Antoine Laurent Lavoisier :

«Nada se perde, tudo se transforma”!

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