Diminuição da morbidade, aumento da expectativa de vida saudável… Atividade física aliada à economia de custos de saúde

Os políticos estão começando a olhar para as consequências econômicas de uma nação esportiva, enquanto a atividade física será a grande causa nacional em 2024, por ocasião dos Jogos de Paris. E os números são mais do que encorajadores.

Em um contexto de busca de economia nas contas da Caisse nationale d’assurance maladie (Cnam), Caixa nacional de seguro saúde, a atividade física e esportiva seria uma das soluções para reduzir os custos de saúde na França? Embora os benefícios para a saúde da atividade física e esportiva não precisem mais ser demonstrados, a economia causada por ela ainda parece subestimada.

Por mais que tenhamos as provas científicas da sua eficácia, até agora não avançamos no aspecto econômico. No entanto, vários trabalhos mostram que a economia pode ser feita a mais ou menos longo prazo“, expõe Alain Fuch, médico, que participou da realização do primeiro relatório encomendado sobre o assunto, em 2022, pelo Ministério dos Esportes e Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Um dado que chegou ao conhecimento dos políticos pois a atividade física será o centro do tema por ocasião dos Jogos de Paris.

INATIVIDADE FÍSICA CALCULADA EM BILHÕES DE EUROS

Isso é bem demonstrado, confirma Martine Duclos, chefe do serviço de medicina esportiva do CHU de Clermont-Ferrand e diretora do Observatório Nacional de Atividade Física e Sedentarismo (Onaps). O custo do sedentarismo na França é de 140 bilhões de euros por ano, de acordo com dados do Caisse nationale d’assurance maladie (Cnam). Este é, aliás, um número amplamente subestimado, uma vez que o custo das doenças crónicas não foi medido em termos de morbidade [estado de doença].”

“Este número varia de acordo com a idade: 840 euros por ano se a pessoa tiver entre os 20 a 39 anos, 23 275 euros se a pessoa tiver entre os 40 e os 74 anos.*”

(Martine Duclos, diretora da Onaps para franceinfo:sport)

No ano passado, o Ministério do Esporte e Jogos Olímpicos e Paralímpicos analisou o assunto e pediu um trabalho de pesquisa para identificar estudos e trabalhos sobre as consequências econômicas da atividade física para a saúde. Nunca antes um trabalho de pesquisa desta magnitude tinha sido realizado pelo Ministério do Esporte, que agora «adotou a linha da prevenção», assegura Alain Fuch.

MILHÕES DE ECONOMIA EM GASTOS COM SAÚDE POR ANO

Neste documento intitulado Avaliar os impactos socioeconômicos do esporte-saúde na França, estabelece-se assim que «a atividade física permite uma diminuição de 20 a 50% no risco de patologia coronária, de 20% a 60% do risco de acidente vascular cerebral (AVC), de 45% do risco de diabetes tipo 2 e até 65% se for praticada em alta intensidade entre as pessoas em risco». A atividade física também reduz o risco de desenvolver certos tipos de câncer, de 22 a 27% para o do cólon, de 19 a 27% para o câncer de mama, de 15 a 19% para o câncer de estômago ou de 19 a 51% para o câncer de esôfago.

Concretamente, de acordo com um estudo do Conselho Nacional de Atividades Físicas e Esportivas, realizado em 2007, «se mais de um milhão de franceses fisicamente inativos seguissem as recomendações da OMS [150 minutos de atividade física semanal de intensidade moderada para adultos], mais de 250 milhões de euros em despesas de saúde seriam economizados a cada ano». Mais recentemente, em 2018, o Centro de economia do esporte (Bureau de l’économie du sport) modelou os ganhos econômicos potenciais de acordo com o aumento do nível de atividade física e esportiva (APS) na França. Constatação: ao aumentar o número de praticantes regulares em 10%, o ganho líquido é estimado em 300 milhões de euros por ano. Ele sobe para 1,3 bilhão por ano para um aumento de 50% nos praticantes, e até 2,6 bilhões por ano quando o número de praticantes regulares dobra.

ECONOMIA GERADA PELO AUMENTO DA PRÁTICA ESPORTIVA NA FRANÇA

azul claro = economias realizadas; azul escuro = custos suplementares; verde= ganho liquido

em bilhões de euros

Crescimento da prática da atividade física (fonte: Ministério de Esportes, 2018. Apolline Merie)

Em todo o país, as economias potenciais são, portanto, consideráveis e até permitiriam aumentar seu produto interno bruto (PIB). Os especialistas trabalharam em uma modelagem de três cenários de aumento do nível de atividade física por trinta anos, levando em consideração a evolução dos gastos com saúde e a da perda de produtividade relacionada, por exemplo, ao absenteísmo por doença. De acordo com seus cálculos, o aumento do nível de atividade física da população francesa permitiria um aumento anual do PIB de US $ 2,98 para US $ 13,94 bilhões a partir de 2050, enfatiza o estudo Os benefícios econômicos de uma população mais fisicamente ativa, publicado em 2019.

EFEITOS IMEDIATOS E EM QUALQUER IDADE

Acima de tudo, os relatórios provam que a economia observada surgem rapidamente. “Nosso estudo demonstrou que um programa de atividade física traz uma melhor qualidade de vida para pacientes com histórico de doença cardíaca coronária ou insuficiência cardíaca moderada. As pessoas que seguiram este programa viram seus gastos com despesas de saúde diminuir em 30% no mesmo ano do programa, uma queda de 1300 euros por ano“, afirma Alain Fuch, autor do estudo científico As du cœur, realizado em 2014, sobre o impacto psico-comportamental e médico-econômico de um programa de atividade física adaptada (APA) em terapia não medicamentosa.

Esta redução dos custos relacionados com as despesas de saúde é confirmada em qualquer idade da população e, em particular, entre os idosos. Uma análise do Instituto de Políticas Públicas, publicada em 2015, estimou os custos anuais diretos economizados por meio de quedas evitadas, como resultado de um programa de APA para residentes de lares de idosos. Esta queda seria de 1,842 a 3,242 euros por paciente todos os anos.

Se este tipo de programa APA fosse generalizado para 500.000 residentes, a França poderia poupar entre 421 e 771 milhões de euros todos os anos. “Sabemos que as quedas são muitas vezes o gatilho para o envelhecimento acelerado. Para evitá-los, você deve mobilizar seu corpo, continuar enviando todos os sinais de movimento que envolvem o cérebro e o sistema locomotor (músculos, articulações, ossos ..) como um todo. Simplificando, mexer-se protege contra a queda“, explica Irène Margaritis, professora de fisiologia esportiva e assistente da Direção de Avaliação de Riscos da Anses (Agência Nacional de Segurança Sanitária).

UMA EXPECTATIVA DE VIDA SAUDÁVEL ESTÁVEL

Essas economias de custos de saúde andam de mãos dadas com uma expectativa de vida saudável, ou seja, o número de anos que uma pessoa pode contar para viver sem sofrer incapacidade nos menores gestos da vida cotidiana.” Existe uma ligação muito clara entre a atividade física e a expectativa de vida, uma vez que há uma diminuição da mortalidade e morbidade com a atividade física. E, ao mesmo tempo, um prolongamento da vida saudável“, explica Irène Margaritis.

Porque se «os franceses vivem cada vez mais tempo, o ganho desses anos de vida nem sempre está associado a anos de vida saudável», lembra a Direção de Pesquisa, Estudos, Avaliação e Estatística (Drees), em um de seus relatórios publicados em 2018.

Por cerca de vinte anos, a expectativa de vida saudável dos franceses permaneceu estável à medida que a expectativa de vida aumenta. “Somos uma das nações que vive mais tempo, porém, estamos muito mal ranqueados para os anos de vida saudável. Estamos mais ou menos no meio dos países europeus, com uma idade média onde as doenças crônicas se desenvolvem por volta dos cinquenta anos”, observa Martine Duclos.

FRANÇA, UM PAIS DE TRATAMENTO E NÃO DE PREVENÇÃO

Embora os muitos estudos sobre o assunto demonstrem uma ligação direta entre a diminuição dos custos de saúde e a atividade física, as políticas estão apenas começando a olhar mais de perto para este parâmetro. Contatado por franceinfo: sport, a Direção-Geral da Saúde que trabalha com o Ministério do Esporte no assunto, confirma esta consideração «da importância de promover a atividade física como um importante determinante para melhorar a saúde da população».

O ministério também especifica que cerca de «vinte experimentos estão em andamento»,(…) «sobre percursos de cuidados integrando ou centrados na APA com cobertura fixa multidisciplinares», a fim de avaliar «a eficiência (…), contribuindo para fornecer dados complementares, necessários para a orientação da política pública de saúde, sobre o impacto dessas intervenções em termos de economia da saúde». Por que esperar tanto?

Primeiro, não temos uma cultura de prevenção, mas uma cultura de cuidados. Em seguida, os efeitos da prevenção só são observados a partir dos quatro ou cinco anos de idade, o que não corresponde à visão de um político que quer resultados imediatos.” (Martine Duclos, diretora da Onaps para franceinfo:sport)

Mais do que essa consciência política, é um país inteiro que deve ser educado nesse sentido. «Os médicos estão começando a ser treinados sobre os efeitos da atividade física», enfatiza o chefe do serviço de medicina esportiva do CHU de Clermont-Ferrand. «Agora, onde deve-se ter progressos é no cuidar da atividade física para fins terapêuticos», diz Alain Fuch. Isso deve ser realizado para que o pais se torne um pais de prevenção mais do que um de tratamento.

* de acordo com um relatório da France Stratégie (França Estratégia), intitulado Avaliação socioeconômica dos efeitos à saúde de projetos de investimento público e publicado em 2022.

(fonte:franceinfo:sport, Apolline Merle, publicado em 31/10/2023). Tempo de leitura: 7 minutos

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