Atletas masters (ou “veteranos”) são pessoas que treinam e participam regularmente de competições esportivas, reservadas para categorias de idade geralmente acima de 40 anos. Como o atleta master mantém um nível sustentado de treinamento até a velhice, ele não está sujeito aos efeitos deletérios da inatividade física. Como resultado, é considerado em muitas pesquisas como um modelo experimental de envelhecimento biológico primário. Em outras palavras, possibilita caracterizar os efeitos do envelhecimento fora dos determinantes ambientais, como o sedentarismo.
Nas últimas três décadas, houve um aumento significativo no número de atletas mais velhos competindo no esporte de alto rendimento. Para se destacar, é essencial que esses atletas minimizem os efeitos do envelhecimento em suas capacidades aeróbia (resistência) e anaeróbia (força e explosividade). Há muito se pensa que o comprometimento das habilidades físicas relacionado à idade é simplesmente a consequência do chamado envelhecimento “normal”. No entanto, já foi demonstrado que as capacidades físicas de idosos sedentários podem ser melhoradas após o treinamento físico. Essas observações sugerem que uma das principais causas do declínio dos sistemas fisiológicos (cardiovascular, neuromuscular, respiratório etc.) com a idade seria o sedentarismo. Continuar a treinar e competir até a velhice permite que atletas masters mantenham níveis mais altos de aptidão aeróbia e anaeróbia em comparação com populações sedentárias da mesma idade. Verificou-se, inclusive, que alguns atletas com mais de 70 anos de idade apresentam capacidades neuromusculares ou cardiorrespiratórias comparáveis ou até superiores à média da população de adultos jovens (20-30 anos). No entanto, mesmo em atletas veteranos, ocorre um declínio na capacidade aeróbia e anaeróbia relacionada à idade.
Apesar deste declínio, a sua participação e desempenho em competições reservadas a atletas mais velhos (por exemplo, World Masters Games) ou competições de massa, como a maratona, continuam a aumentar. Dado o crescente número de atletas masters e o interesse da sociedade em envelhecer bem, muitos estudos científicos estão sendo realizados sobre esses atletas. Esta pesquisa tem como objetivo descrever os fatores fisiológicos que permitem que atletas masters mantenham níveis relativamente altos de desempenho físico e avaliar os benefícios para a saúde da manutenção de níveis sustentados de treinamento físico até a velhice.
Em um estudo recente, analisamos a redução de desempenho relacionada à idade de um dos maiores atletas veteranos de todos os tempos, o canadense Ed Whitlock, recentemente falecido. Por exemplo, Ed Whitlock foi o primeiro atleta a correr a maratona em menos de 3 horas, aos 70 anos, e em menos de 4 horas, aos 85. Apesar do desempenho excepcional, apesar de sua idade avançada, a taxa de redução em seu desempenho aumentou após 80 anos e aumentou acentuadamente após 85 anos. A presença de um declínio acelerado no desempenho de endurance após os 80 anos precisa ser confirmada por estudos longitudinais adicionais e para outras atividades de endurance, como natação e ciclismo. De fato, estudos anteriores sugeriram que o declínio relacionado à idade no desempenho de endurance depende do modo de locomoção, com uma diminuição menos pronunciada no ciclismo em comparação com a corrida ou natação.
Assim, o trabalho realizado com atletas veteranos tem possibilitado dar conta das trajetórias de evolução do desempenho físico com o avançar da idade, ao mesmo tempo em que se liberta de fatores ambientais, como o sedentarismo. No futuro, o aumento da população de atletas veteranos, especialmente para categorias etárias acima de 70 anos, permitirá coortes de participantes em protocolos de pesquisa experimental maiores. Isso deve eventualmente permitir identificar com mais precisão os efeitos: 1/ envelhecimento em certos sistemas fisiológicos, ao mesmo tempo em que se liberta de fatores ambientais como o sedentarismo e 2/ atividade física intensiva nas principais funções fisiológicas.
(fonte: Romuald Lepers et Thomas Cattagni / INSERM U1093, Dijon INSERM U1179, Garches)
Romuald Leprosos é professor da Universidade da Borgonha (Dijon) e membro do laboratório INSERM U1093 CAPS. Sua pesquisa se concentra na plasticidade do sistema neuromuscular e nas interações entre fadiga mental e fadiga física. Ele também está interessado na evolução das performances dos atletas master.
Thomas Cattagni é bolsista de pós-doutorado no laboratório INSERM End-icap U1179 (Equipe 3: Terapêuticas e tecnologias inovadoras aplicadas a distúrbios neuromotores) da Universidade de Versalhes – Saint Quentin-en-Yvelines (UVSQ). Sua pesquisa se concentra na plasticidade do sistema neuromuscular durante o envelhecimento e após uma lesão do sistema nervoso central. Ele também está interessado na evolução do desempenho de atletas veteranos.