A primeira parte é a síntese do artigo publicado hoje no jornal Le Monde cujo título traduzido é “O Envelhecimento da população, um desafio que vai muito além do problema das pensões” que serve de parâmetro para mostrar que muitas dificuldades referentes à longevidade e à perda de autonomia são enfrentadas também por países europeus. (por Béatrice Madeline, 05/03/2023).
“O maior desafio, é a dependência”, diz Alain Villemeur, diretor da TDTE (Transições demográficas, transições econômicas), pois o envelhecimento e a longevidade têm um impacto na economia e na sociedade francesa. Não somente o país envelhece cada vez mais, mas além disso os sêniores serão cada vez mais idosos e nem sempre com boa saúde. Segundo estimativas do relatório Libault, a França terá, nos próximos anos, um aumento de entre 2,7 milhões e 3,7 milhões de pessoas que perderão autonomia.
Atualmente, a França tem 1,4 milhão de pessoas com mais de 60 anos que recebem auxílio devido à perda de autonomia. A idade média da perda de autonomia dos franceses gira em torno dos 83 anos.
O custo anual do país para atender esses idosos dependentes (casas de repouso, tratamentos, suportes e acompanhamentos), gira por volta de 30 bilhões de euros.
Como há uma diminuição do número de ativos, a receita é inferior a 20 bilhões de euros. Daí, pode-se mensurar a pressão que o envelhecimento tem nas finanças. As reformas na aposentadoria regularizaram quase 50% do efeito do envelhecimento. Porém, as contas ainda não fecham e as projeções são de enormes dificuldades em equacionar o problema.
Os empregadores reclamam cada vez mais das dificuldades de contratações, o quê, com certeza, tem a ver com a demografia.
Os países europeus, em geral, estão muito preocupados com o envelhecimento da população e suas consequências no setor de finanças sociais.
Quando há um aumento de expectativa de vida há uma desaceleração do crescimento do país.
Os empregadores e os economistas observam com preocupação a evolução do mercado de trabalho. Matematicamente, quanto mais um país envelhece, mais a população em idade ativa diminui e mais o crescimento potencial é reduzido. “O envelhecimento joga contra o crescimento, pois uma força de trabalho idosa é menos produtiva do que uma população jovem”, afirma Philippe Crevel, diretor do comitê de análise sobre as questões de poupança, aposentadoria e previdência.
O problema não está apenas na produtividade dos trabalhadores mais velhos, sobre a qual existem poucos dados. O problema está, simplesmente, na falta de mão de obra dos jovens no mercado do trabalho.
“Um dos fluxos que reequilibrarão o mercado de trabalho é a chegada de trabalhadores imigrantes no território”, prevê Sr. Roucher. “Já constatamos isso com os cuidadores, por exemplo”.
E é isso que a Alemanha está fazendo, pois ela está envelhecendo ainda mais rápido que a França.
O Japão, por outro lado, escolheu outra via – a de manter os idosos no trabalho durante o máximo de tempo possível. Como os valores das pensões são muito baixos para viver, os japoneses são forçados a complementar sua renda com um salário e, portanto, com emprego. Para os japoneses, é normal continuar trabalhando até os 70 anos. De fato, é percebida, culturalmente, como uma missão social.
Pesquisas mostram que os gastos com moradia, saúde e alimentação tendem a crescer com a idade, em proporção à renda, enquanto os gastos com vestuário e lazer diminuem. A partir dos 70 anos, as despesas consideradas “compressíveis” absorvem em média 35% da renda.
BRASIL
Essa segunda parte trata dos dados sobre o BRASIL que não constam no artigo acima citado.
A fim de tecer parâmetros com o envelhecimento no Brasil, seguem alguns números que podem nos dar um panorama desse tema.
POPULAÇÃO
Segundo o IBGE (2022), a população do Brasil era de 203.062.512 habitantes. Em 2023, 17%, ou seja, 34,9 milhões, têm mais de 60 anos.
A projeção para 2034 será de um aumento de quase 34% (46,7 milhões) dos idosos dessa faixa etária.
O crescimento da população do Brasil é de 0,52% ao ano. Porém, é inferior à média mundial que é de 1,03%. Haverá, então, um encolhimento da população. A falta de profissionais no mercado de trabalho será crescente.
EDUCAÇÃO
53,2% dos brasileiros com mais de 25 anos concluíram a educação básica obrigatória. E, 19,2% têm ensino superior.
Há de se levar em conta o baixo nível de ensino. A saber:
– 61% dos alunos do 5ºano não conseguem interpretar textos simples.
– 60% dos alunos do 9ºano não interpretam textos dissertativos.
– 65% dos alunos do 5ºano não dominam o cálculo,
– 60% dos alunos do 9º ano não sabem realizar cálculos de porcentagem.
(fonte: Ideb – artigo do Canal do Educador)
RENDA MÉDIA DOS TRABALHADORES E APOSENTADORIAS
90% dos brasileiros têm renda média mensal de R$ 2.787,00.
70% dos aposentados do INSS (31,5 milhões de pessoas) ganham um salário-mínimo (R$ 1.320,00).
QUALIDADE DA SAÚDE PÚBLICA
A estrutura idealizada pela Constituição Federal ganhou vida com a estruturação do SUS (Sistema Único de Saúde), que dividiu as responsabilidades entre as esferas federal, estadual e municipal.
Contudo, esse modelo inspirador apresenta problemas na prática.
Principalmente em relação a desigualdades na oferta de serviços, escassez de recursos e mão de obra e falhas na comunicação entre os entes federativos.
Vêm daí as longas filas de espera, dificuldades no tratamento e falta de ações que foquem na prevenção e atenção primária à saúde.
Afetada pelos problemas citados acima, a qualidade da saúde pública no Brasil deixa a desejar.
Em 2021, a nação investiu apenas 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em saúde – valor bem menor que a média mundial de 15,3%, considerando países membros da OCDE.
Segundo o relatório “Aspectos Fiscais da Saúde no Brasil”, publicado pelo Banco Mundial, a maior parte dos gastos é bancada por organizações privadas, enquanto somente 45% do total de investimentos vem do setor público.
Além do mais, a média de consultas de saúde por habitante no Brasil é de apenas 2,8 conforme o relatório sistêmico de fiscalização Saúde (Fisc Saúde 2016) do Tribunal de Contas da União.
Esse cenário coloca o país na 27ª posição entre 30 nações que tiveram os serviços de saúde avaliados.
Um dos gaps alarmantes está na pouca disponibilidade de medicamentos essenciais gratuitos à população brasileira.
Dados da OCDE revelam que as famílias financiam 90% dos gastos com produtos farmacêuticos.
Outros indicadores preocupantes estão relacionados a problemas de saúde primária, mostrando a falta de programas preventivos eficazes.
Um exemplo está no crescimento de 12,5% da taxa de sobrepeso entre os brasileiros, que foi a quarta mais alta entre 2006 e 2016.
Somente Costa Rica, Japão e Coreia registraram números maiores.
7 Problemas da Saúde Pública no Brasil:
1) Gestão Ineficiente
2) Verba escassa
3) Longas filas de espera
4) Superlotação de hospitais
5) Falta de leitos
6) Desigualdade na distribuição de médicos
7) Despreparo dos profissionais
Os desafios para a saúde pública no Brasil são complexos, o que exige soluções multifacetadas.
(fonte: artigo do blog do Dr. José Aldair Morsch, cardiologista – 17/05/2022)
SAÚDE PRIVADA NO BRASIL
A saúde privada brasileira enfrenta atualmente uma de suas crises mais agudas.
A pandemia de Covid-19 deixou como herança um sistema em franco desequilíbrio, cujos custos assistenciais crescem de forma acelerada, sem que as receitas operacionais consigam acompanhar.
As dificuldades começam nas operadoras de planos e seguros de saúde e se espraiam por toda a cadeia de prestação de serviços, como hospitais e laboratórios de medicina diagnóstica.
As cerca de 700 operadoras de planos de saúde médico-hospitalares privados em atividade no país são a porta de entrada de um gigantesco sistema, dedicado a cuidar de 50,8 milhões de pessoas.
São elas que pagam os prestadores pelos atendimentos ministrados aos pacientes, repassando quase 90% do que recebem de seus associados na forma de mensalidades: 83% das receitas dos principais hospitais privados e 61% da dos laboratórios provêm das transferências feitas pelos planos.
O conjunto das despesas com o tratamento de seus beneficiários vem superando em muito a receita que os associados pagam a título de mensalidade pelos planos contratados: já são R$ 18,7 bilhões de prejuízo operacional acumulado.
A saúde privada brasileira só terá salvação se buscarmos soluções conjuntas, que mobilizem e envolvam todos.
Passos em falso podem determinar o fim da saúde privada no país tal como a conhecemos hoje, com efeitos danosos também sobre a saúde pública, que, sem condições e sem orçamento, teria de absorver uma enorme demanda adicional.
(por Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar – FenaSaúde)
ESPORTES
Os dados disponíveis são antigos e defasados.
Fontes:
2013 – DIAGNOSTICO NACIONAL DO ESPORTE (Ministério do Esporte)
2015 – Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad).
Menos de 40% dos brasileiros costumam praticar algum tipo de esporte ou atividade física.
Idade – A prática esportiva é maior nos grupos com menor idade. Entre as pessoas com 15 a 17 anos, 53,6% realizam alguma atividade.
Entre os com 60 anos ou mais, apenas 27,6% declararam fazer exercício ou atividade física.
Escolaridade – O número de praticantes de esporte ou atividade física cresce quanto maior é a escolaridade – é de 17,3% entre os sem instrução, 36,6% entre os com ensino fundamental completo, 43% entre os com ensino médio completo e 56,7% entre os que possuem ensino superior completo.
Nível Econômico – Também há uma relação positiva entre as práticas e o rendimento médio mensal per capita: 31,1% dos que recebem até meio salário-mínimo realizam atividades, contra 63,9% entre quem tem rendimento superior a 5 salários-mínimos. Nas classes de menor nível econômico as mulheres possuem proporções bem menores de prática esportiva.
Investimentos – 73,3% dos homens e mulheres afirmaram que o poder público deveria investir mais no setor.
Diante dos pontos levantados e considerando-se que:
– Os esportes poderiam e deveriam ser o pilar para o caminho da Saúde e Longevidade, mas estão atrelados à falta de políticas públicas, à falta de campanhas para a Prevenção, ao nível de estudos, ao nível social e de educação dos cidadãos,
– A população de idosos aumentará significativamente nos próximos anos,
– A saúde pública e privada está em condições precárias,
– A educação é de baixa qualidade e, portanto, haverá escassez de profissionais qualificados no mercado de trabalho
– A renda média salarial dos ativos e das pensões dos aposentados é baixa o que gera uma diminuição importante na arrecadação dos impostos diretos
– A globalização causou mudanças na vida familiar com o distanciamento dos filhos e dos pais impossibilitando as assistências necessárias pela família ao idoso quando de sua perda leve, parcial ou total de autonomia
– a alimentação, o transporte, a segurança e até o urbanismo são pontos muito relevantes para a qualidade de vida dos indivíduos
Seguem alguns questionamentos:
1) Quais seriam os caminhos que o Governo, empresas privadas e sociedade deveriam traçar para diminuir ao máximo o impacto que todos esses pontos causarão diretamente na Saúde, Prevenção, Longevidade e na redução da perda da Autonomia?
2) Como fazer face ao crescente e inevitável aumento da população idosa que necessitará cada vez mais de cuidados versus a uma crescente dificuldade em gerar proventos dos ativos que pagarão essas despesas?
3) Como as assistências médicas e as seguradoras de saúde enfrentarão a crescente demanda de tratamentos para a maioria de seus clientes que são sedentários com grandes chances de desenvolverem doenças crônicas?
A qualidade de vida, afinal, é um tema complexo que envolve fatores multidimensionais. Condições e estilos de vida estão nessa trama que compõem o percurso para se chegar à Longevidade com a diminuição do tempo de dependência.
Sim, sem sombra de dúvida, devemos cuidar, falar e quebrar paradigmas em relação ao Envelhecimento da população, mas não podemos de maneira alguma deixar que as políticas públicas esqueçam os jovens.
O número de jovens diminui, a juventude será um recurso raro. Para podermos enfrentar os desafios do envelhecimento, precisamos cuidar da formação dos jovens e de sua inserção na sociedade.
A dificuldade reside em que os políticos abracem todos os aspectos do problema como um todo.
O tempo demográfico é muito mais longo do que o tempo político.