A travessia Mar Grande-Salvador, na Baia de Todos os Santos, foi realizada pela primeira vez em 1952 por Arlindo Guimarães, por conta própria. E a primeira edição foi em 1955 organizada pelo jornal A Tarde.
A travessia já contou com feitos incríveis: Norio Ohata conquistou a vitória 4 vezes seguidas (1964 a 1967); Silvio Lacerda venceu com apenas 13 anos de idade (1994); Patricia Queiroz Britto, a primeira mulher a fazer a travessia no nado borboleta (1997).
Participam aproximadamente 180 atletas, brasileiros e estrangeiros, que nadam 12 km.
Atualmente, o nome da travessia mudou para Travessia Itaparica-Salvador (TIS).
Sr. Pedro (nome fictício) é nadador e faz Pilates. Tem 82 anos.
E tem o hábito, há mais de 10 anos, de premiar o atleta que chegar em último lugar nessa travessia.
Curiosa com essa informação, entrei em contato com ele para entender melhor o motivo que o levou a fazer isso.
Segundo ele, a competição esportiva atual é contraditória, pois o lema olímpico adotado em 1908 era “Ganhar não é tão importante quanto participar”.
O Barão de Coubertin, o criador das Olimpíadas modernas, gostou tanto da frase que a adotou, com ligeiras adaptações e ficou: “O importante é competir, não vencer”.
Evidentemente, a frase caiu em desuso antes mesmo de ser amplamente utilizada…
Segundo Sr. Pedro, a única prova que não conta ponto e não há nem ganhador e nem perdedor, é o frescobol!
Os três primeiros colocados da travessia recebem premiação em dinheiro.
Depois, os resultados são muito comemorados. Tais atletas têm recursos próprios, equipamentos melhores…
E, sobem ao pódio para receber seus prêmios.
Quanto aos últimos, quando chegam, se deparam com poucas pessoas pois a maioria delas foi embora e com o material do evento já sendo recolhido.
Ou seja, não há respeito para com os remanescentes. Nem reconhecimento, nem conduta de incentivo.
Eles se esforçaram, cumpriram com todos os termos do regulamento e, no entanto, são “esquecidos”.
Sr. Pedro pediu permissão à Federação para a entrega da premiação ao último nadador.
E decidiu que o valor seria o mesmo do que o segundo lugar recebe.
Dessa forma, não desmerece o que chegou em primeiro.
Valor esse que sempre foi de R$ 1.000,00. Esse ano, ele aumentou para R$ 1.500,00.
O prêmio é entregue em dinheiro por uma outra pessoa em um envelope.
Sr. Pedro prefere o anonimato.
Levantei a questão sobre o nadador que faria de tudo para chegar em último lugar a fim de receber seu prêmio. Porém, como bem lembrado pelo Sr. Pedro, há muitos participantes e que, ao longo da prova, se dispersam – então, não há como saber quem está em qual colocação.
Além disso, a prova tem um tempo de corte: 2 horas após a chegada do primeiro lugar. Caso ultrapassem esse tempo, são desclassificados automaticamente.
Senhor Pedro contou que uma vez faltou patrocínio para os três primeiros colocados. Ele, então autorizou que o valor doado fosse dividido em 4.
Da última vez, foi uma nadadora com mais de 50 anos que chegou por último. Ao saber que receberia a premiação, deu pulos de alegria pois enfim, poderia trocar de geladeira!
Senhor Pedro tem intenção de dar continuidade a essa conduta a fim de incentivar as pessoas à prática esportiva.
Quanto às competições em piscina, há anos constata-se que são sempre os mesmos nadadores que chegam em 6º, ou 10º ou último lugar. E, mesmo assim, retornam todos os anos às provas. São fiéis às competições.
Tenho grande admiração pela tenacidade e perseverança desses atletas.
Não haveria nenhuma competição de qualquer modalidade esportiva sem esses atletas. São eles que permitem o “show” e que haja vencedores. Por que não pensar em recompensá-los de alguma forma?
O mesmo para os barqueiros que acompanham os nadadores e que fazem parte da estratégia da prova desse nadador.
Chamo tais pessoas de coadjuvantes invisíveis.
Um atleta não vence uma prova sozinho. Por trás dele há esses atletas que “fizeram” o evento, um treinador, um caiqueiro, um guia, um barqueiro, um torcedor, um amigo, a família…
Reconhecer que todos contribuem para o sucesso do evento e para que haja três vencedores seria, no mínimo, resgatar e valorizar o espírito de equipe de um coletivo cujo objetivo é o mesmo: o ESPORTE.
Que tal então a frase:
VALORIZAR TODOS OS QUE PARTICIPAM DA PROVA É O QUE NOS FAZ VENCEDORES!