A Menopausa é um estado fisiológico que corresponde ao fim das menstruações, o que acontece em geral por volta dos 51 anos.
Embora o tema da menopausa permaneça um tabu na sociedade, já foi amplamente provado que os benefícios do esporte podem reduzir, ou mesmo combater, os efeitos adversos dessa desregulação hormonal.
“A menopausa está associada à velhice, ela própria associada à morte. É uma passagem da vida, mas não queremos falar sobre isso.” Yannick Souvré, ex-lider da seleção francesa de basquete, campeã europeia em 2001, não é a única a fazer essa observação. Na maioria das vezes, o tema da menopausa é jogado para debaixo do tapete. Por ocasião do Dia Internacional do Esporte Feminino, quarta-feira, 24 de janeiro, o tema vem a calhar.
A menopausa é um estado fisiológico, correspondente à interrupção definitiva da atividade ovariana, portanto, da menstruação. Ela acontece em média aos 51 anos (com variabilidade individual entre 45-55 anos). “A menopausa é um tabu, como tem sido a menstruação, embora tenha melhorado hoje em dia. É algo que não é valorizado, é preciso dissimulá-lo, escondê-lo“, confirma Catherine Louveau, socióloga do esporte. «Normalmente, considera-se que uma mulher entrou na menopausa se não tiver menstruação durante há doze meses, a partir dos 48 anos», explica Carole Maitre, ginecologista do Instituto Nacional de Esporte, da Perícia e Desempenho (Insep), que treina os futuros campeões tricolores.
Envelhecimento é sinônimo de “acabado”
Embora cada menopausa seja diferente, alguns sintomas gerados por esta disfunção hormonal, são recorrentes: ondas de calores, dores nas articulações, ganho de peso, distúrbios do sono, ansiedade, até depressão. “De acordo com as representações femininas, a mulher envelhecida e na menopausa perde valor, ao contrário do homem. Não tendo mais as menstruações, ela não pode mais procriar. Então, o tema da menopausa questiona: ela ainda é realmente uma mulher?“, questiona Catherine Louveau. “O envelhecimento é sinônimo de «acabado». Uma vez que você entra na menopausa, não é mais fértil, você é boa para ser descartada”, resume Nathalie Simon, campeã francesa de windsurf em 1986 e autora do livro Les bienfaits du sport (Os benefícios do esporte) (Editora Hugo New Life, 2019).
No mundo do esporte, o assunto é pouco abordado porque as carreiras esportivas das atletas terminam muito antes da chegada da menopausa. “Durante a carreira, não pensamos nisso. Uma vez aposentada, a tendência é a de desaparecer um pouco das mídia, então também não falamos sobre isso“, confessa a ex-esquiadora em combinado (descida e slalom) Florence Masnada, dupla medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos (1992) e em descida (1998).
“No esporte, fala-se mais de sucesso e objetivos do que de um estado fisiológico. É a mesma coisa para a andropausa nos homens, e a puberdade, por exemplo.
No entanto, «a menopausa não é um palavrão», insiste Nathalie Simon. É um momento da vida, com mudanças hormonais, mas temos os meios para nos adaptar.“
Os diversos benefícios do esporte na menopausa
Na verdade, o tabu da menopausa e suas consequências pode ser parcialmente quebrado graças ao esporte e seus benefícios. “As mudanças relacionadas à menopausa são muitas, e a maioria pode ser em grande parte diminuída pela atividade física regular, seja você uma atleta de alto nível ou uma simples praticante regular, informa Martine Duclos, chefe do serviço de medicina esportiva do CHU de Clermont-Ferrand e diretora do Observatório Nacional de Atividade Física e Sedentarismo (Onaps). “A mensagem a ser lembrada é: um pouco de atividade já é melhor do que nada e nunca é tarde demais para começar. Sempre teremos benefícios, independentemente da idade em que começamos“, repete a médica.
«Com a carência estrogênica relacionada à menopausa, há perda óssea [osteoporose] e massa muscular, bem como um aumento da massa gorda visceral [intra-abdominal]», explica Martine Duclos. Todos esses sintomas podem ser limitados ou mesmo reduzidos pela atividade física regular, igualmente benéfica em relação ao risco de doenças cardiovasculares e diabetes, aumentado por essa carência.
Outra repercussão: a hipoestrogismo relacionada à menopausa pode enfraquecer tendões e ligamentos. Mais uma vez, exercícios de alongamento e fortalecimento muscular reduzem o risco de enfraquecimento. “Estudos demonstraram uma diminuição das funções cognitivas, das capacidades de aprendizagem e de memorização após a menopausa. Praticar uma atividade física regular, ajuda a manter suas funções cognitivas“, ressalta ainda a ginecologista do Insep, Carole Maitre. E também para diminuir sua ansiedade.
Atletas melhor preparadas
Graças à sua atividade intensiva durante vários anos, as atletas de alto nível sentem menos os efeitos deletérios da menopausa: são menos propensas à osteoporose, riscos cardiovasculares e ao ganho de massa intra-abdominal e sua massa muscular diminui muito menos rapidamente. «Além do fato de não ficar mais menstruada, não senti nada de especial», diz a francesa Nathalie Tauziat, ex-número 3 mundial, finalista em Wimbledon em 1998 e que ainda corre e joga tênis mais de três vezes por semana. “O corpo muda e se transforma, mas a menopausa nunca me impediu de praticar esporte ou de dormir bem.”
«Minhas amigas, que são sedentárias, me contaram como era difícil para elas suportar todos estes sintomas. E eu, só tinha algumas ondas de calor.» (Nathalie Tauziat, ex numero 3 mundial na WTA para franceinfo:sport)
A ex-esquiadora Florence Masnada relata o mesmo: “Nunca parei para pensar realmente sobre a menopausa. Quando tive as ondas de calor, pensei: «o que é isso?», lembra-se a vencedora da Copa do Mundo em combinado, que atualmente alterna natação, caminhada, mountain bike, esqui, golfe, fortalecimento muscular e ioga entre cinco e seis vezes por semana.
Efeitos reais em caso de manutenção da prática esportiva
No entanto, ter sido um atleta de alto nível não previne em nada no caso de interrupção total da prática. Yannick Souvré, ex-capitã do Les Bleus, oito vezes campeã francesa e três vezes vencedora da Euroliga com Bourges, parou de praticar esportes após sua aposentadoria internacional. Depois de mais de dez anos sem praticar esportes, Yannick Souvré sofre, com a chegada dessa disfunção hormonal, os primeiros sintomas de sua menopausa. “Não sou uma pessoa de reclamar, pois o alto rendimento nos ensina a suportar a dor, mas além das ondas de calor, tive dores terríveis nas articulações que me acordavam à noite. Também me tornei mais irascível. Engordei cerca de vinte quilos. Tive que fazer um tratamento hormonal“, diz a atual diretora da Liga Feminina de Basquetebol.
Enquanto a expectativa de vida na França continua a aumentar, atingindo 85,2 anos para as mulheres em 2022, de acordo com os últimos dados do INSEE, quebrar esse tabu nunca foi tão importante. Algumas já começaram. A americana Serena Williams foi uma das primeiras a falar sobre o assunto ao participar do financiamento de uma marca de suplementos alimentares para aliviar os sintomas da perimenopausa (a fase de transição entre a vida reprodutiva e a não reprodutiva da mulher que acontece antes de ela entrar definitivamente na menopausa). “É raro ver uma área de oportunidades tão vasta, tão mal tratada e tão evidente. Como investidor, vemos isso como uma oportunidade de apoiar a mudança de cultura com produtos dos quais as mulheres simplesmente precisam“, disse a vencedora de 23 títulos do Grand Slam.
“Ver campeãs que assumem a sua idade, e que falam publicamente sobre a menopausa, pode ajudar a democratizar o assunto. É inspirador, parabeniza a ex-esquiadora Florence Masnada. É de suma importância que Senera Williams fale sobre isso, até mesmo antes de sua própria menopausa. Ela é uma porta-voz colossal.”
(fonte: France Télévisions – Redaction sport, Apolline Merle, franceinfo:sport, publicado em 24/01/2024) tempo de leitura: 6 min